Período marcado pela movimentação estudantil ocorrida em Paris, em 1968, que termina em confrontos entre jovens e a polícia de choque durante o mês de Maio. Iniciada por estudantes, conta com a adesão de trabalhadores e espalha-se, posteriormente, para outros países. Em 1968, os estudantes franceses desceram à rua. Descontentes com a disciplina rígida, os currículos escolares e a estrutura académica conservadora, os estudantes de Paris organizam protestos que levam à ocupação da Universidade de Nanterre (oeste de Paris), em 23 de Março. Eles contestam também a situação social e política do país e o governo do general Charles de Gaulle, em virtude do desgaste provocado pela guerra de independência da Argélia. Entre os slogans criados estão “É Proibido Proibir”, “O Poder Está nas Ruas” e “A Imaginação no Poder”. A decisão da reitoria de fechar a faculdade, em 3 de Maio, faz a Sorbonne abrir as portas aos alunos de Nanterre. Influenciados pelos estudantes, operários de Paris realizam protestos, ocupando fábricas e organizando manif’s e greves. No Quartier Latin, bairro dos intelectuais em Paris, há barricadas. A 6 de Maio ocorre o confronto entre 13 mil jovens e a polícia. A repressão é simplesmente brutal. São lançadas bombas de gás lacrimogéneo, respondidas à pedrada pelos jovens. Entre os líderes estudantis destaca-se Daniel Cohn-Bendit (hoje deputado no PE), entre outros.
O caos instala-se. A princípio, o governo francês fica paralisado. Mas a situação é controlada no final de Maio, com violenta repressão. No total são mais de 1.500. O governo de De Gaulle, abalado, sustenta-se no poder somente até Abril de 1969. Foram muitos os maios ou os sessenta e oitos, talvez tantos quantos os personagens que os viveram. Não foi só na Europa que a explosão das lutas juvenis marcaram essa época, também nos EUA e na América Latina, esse ano emblemático foi agitado. No entanto, o epicentro do abalo foi Paris, a cidade marcada pelas grandes revoluções modernas: da Grande Revolução de 1789, à Comuna de Paris de 1871, primeira tentativa de autogestão social da polis moderna.
O pretexto foi a reforma do ensino superior, pensada pelos donos do poder. Mas as razões profundas eram as tensões que se haviam acumulado na sociedade, particularmente entre os jovens. Sem elas Maio não teria sido possível e as ruas não se teriam enchido, nem o movimento ultrapassaria os muros das universidades, espalhando-se como se espalhou pelas periferias operárias.
Tem também aqueles que continuam a recusa, uns anonimamente, outros mais conhecidos, como Raoul Vaneigem, o autor de "A Arte de Viver para a Nova Geração", um dos intelectuais críticos que mantém seu solitário combate contra a sociedade do espectáculo, que foram capazes de entender e denunciar numa época em que o entendimento do capitalismo e do socialismo de estado ainda estava preso a velhas e já decadentes análises do século XIX.
Guy Debord, o mais enigmático símbolo dessa época, solitariamente, com a sua genial arrogância despediu-se da vida, em 30 de Novembro de 1994, com um tiro que interrompia como ato de liberdade sua irremediável decadência física. Desaparecendo assim, aquele que foi um dos principais personagens desses anos, mesmo quando esteve ausente do centro dos acontecimentos, autor do livro "A Sociedade do Espetáculo", que marcou uma época e é ainda hoje um poderoso documento de autópsia do cadáver adiado, que é a sociedade massificada pelo consumo e pelo espectáculo.
Uma geração que produziu tais personagens e tais acontecimentos, mesmo que reduzidos a uma breve primavera, em Paris ou Praga, certamente tem a certeza que viveu uma das raras oportunidades que a história dá aos seres humanos de se sentirem realmente actores e donos de seus próprios destinos. Pode, essa geração, carregar consigo o vazio dos desejos não satisfeitos; pode até iludir-se sobre a irrelevância dos momentos vividos, pode até ter-se arrependido, mas esses anos, essas semanas ou meses, ficarão para sempre na forma de mito, como aqueles momentos que as gerações futuras lamentarão não ter vivido.
Por isso é que o Maio francês é a mais moderna e a mais radical das revoluções: a revolução espontânea, imprevisível e total, numa sociedade, onde todas as velhas reivindicações se conjugaram com o vazio, que nenhuma sociedade de consumo poderá preencher porque é a vital insatisfação do ser humano ante um mundo cada vez mais centrado sobre coisas e onde se perde o sentido individual e colectivo de uma existência verdadeiramente humana.
Pouco importa hoje se a revolução de Maio de 68 era possível, ou era impossível, naquele velho sentido militar e estratégico dos velhos burocratas leninistas. Até porque eles foram os últimos a entender o que estava em causa e os primeiros a afirmar explicitamente a necessidade de impedir que a utopia descesse às ruas. A CGT, os sindicatos comunistas e o PCF desempenharam um papel decisivo na domesticação rápida do movimento, num momento em que os partidários conservadores do regime do General De Gaulle estavam estupefactos ante a insólita e inesperada possibilidade de uma nova Comuna de Paris.
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