27 março 2006

A "nordicalização" dos portugueses

Há mais semana menos semana, o Primeiro-Ministro, José Sócrates, saiu-se com a enigmática frase: “O mais difícil ainda está para vir”.
Uma mensagem que não é facilmente decifrável e que “dá pano para mangas” para quem quiser entrar no labiríntico exercício da especulação. Admira-me que o filósofo José Gil não lhe tenha pegado, ele que tão “sabiamente” teorizou [e se enganou!] a propósito do “sucesso” do governo de Santana Lopes e das eleições legislativas de há um ano, mas que agora se “vingou”, apoiando a candidatura presidencial do Prof. Cavaco Silva.
E como o Primeiro-Ministro mais não disse, julgo que a apreensão dos portugueses pode ter disparado em flecha, como as cotações bolsistas quando se anuncia por aí uma qualquer OPA. Mas na minha modesta opinião, sem qualquer razão. Aliás, como adiante se verá, julgo que, em substância e paradoxalmente, a afirmação de Eng.º José Sócrates é portadora de um optimismo redentor.
É verdade que há séculos que não se ouvia da boca de um governante semelhante afirmação, como não se via tamanha determinação reformista do governo, mexendo em sectores que para outros primeiros-ministros foram verdadeiras “Covas da Moura”. Mas adiante, que não estamos aqui para falar do passado.
Ora “o mais difícil”, meus caros, “o mais difícil” tem a ver com o modo de ser português. Não vai ser fácil [aliás, será “o mais difícil”] dar a volta a este povo descendente dos Lusitanos que “nem se governam, nem se deixam governar”, nas palavras de Sérgio Galba, capitão das Hordas romanas que invadiram a Península e conquistaram a Lusitânia. O tempo passou e parece querer teimosamente dar-lhe razão.

Como transformar este povo de “tez morena e estatura meã”, belicoso, que não pode ver o vizinho de camisa lavada, sangue na guelra, com tiques de macho latino, desenrascado e habilidosamente improvisador, num povo de peles brancas, louro e de olhos azuis, esguio e alto, disciplinado, perfeccionista e estruturalmente organizado, como parece ser a vontade determinada do nosso Primeiro-Ministro?
Numa palavra, como “nordicalizar” os portugueses e “nokializar” as empresas nacionais? Este é o grande problema do Eng. Sócrates, o grande desafio enquanto governante e que vai seguramente tirar-lhe horas e horas de sono.
Mas o Primeiro-Ministro tem um rumo e já deu para perceber que é teimoso e determinado. E também não temos dúvidas de que massa somos feitos. Teimosinhos quanto baste, graças a Deus!
Quero eu dizer com isto que, sim senhor, será possível dar a volta, “nordicalizar” o pessoal, mas com as cautelas necessárias. O Primeiro-Ministro não deve abandonar o seu projecto de “revolução genética”, mas deve fazê-lo na exacta medida do aceitável, evitando criar neste cantinho à beira-mar plantado uma colónia de “clones”.
E o aviso não é desprezível.
Vejamos o caso da Ana Drago, do Bloco de Esquerda. Alguém a imagina na sua estatura franzina, olhos negros e “tez morena” e de cabelo louro?
Ou então o Dr. Marques Mendes, em bicos de pés ou sapatos de tacão alto, só para ganhar mais uns centímetros e mesmo assim ficar abaixo da média sueca, por exemplo?
Ou mudar radicalmente aquele provérbio bem português que diz: “Deixa para amanhã o que não pudeste fazer ontem porque hoje fazes ponte”? Claro que não! Seria o ridículo feito norma.
E depois há mais um problema que anda por aí e sobre o qual é necessário desfazer todas as dúvidas antes de “nordicalizar” seja o que for. O louro poderá estar em vias de extinção, segundo consta. Mas também já li o contrário. A ser verdade, a última pessoa com cabelo louro natural deverá nascer em 2202, na Finlândia, pelo “desaparecimento” do gene MC1R.
Impõe-se portanto a pergunta: valerá a pena o esforço do Primeiro-Ministro e o sacrifício do português direitinho e aprumadinho, tipo Presidente do Millenium.bcp, que segue a máxima, “santificar o trabalho e santificar-se pelo trabalho”? Sinceramente acho que nim e passo a explicar.
Desaparecido o gene, o “desenrasca” português facilmente o substitui pela água oxigenada. E lá teremos as louras “de plástico”, os Hermans e os homens. Por isso, nim.
Portanto, meus caros, “o mais difícil ainda está para vir”, mas eu estou razoavelmente optimista e até apoio sem grandes reservas. E já agora que estou com a mão na massa [salvo seja!], deixo aqui uma sugestão para a campanha “Portugal Marca”.
Porque não antecipar uma “assinatura” de futuro: “Proudly nordic, forever!”.
À superior consideração de quem de direito.

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